INEM excede em mais do triplo o limite legal de horas extra por falta de autorização do Governo para contratar enfermeiros



07 de agosto de 2025

A ASPE reuniu com o Presidente do Conselho Diretivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), Sérgio Janeiro, no dia 7 de agosto de 2025 às 11 horas, para esclarecer os motivos de recurso a horas suplementares para assegurar o regular funcionamento dos serviços e discutir outras preocupações laborais e organizacionais dos Enfermeiros do INEM. 


Foram abordados temas como falta de enfermeiros, o abuso do recurso a horas extra para suprir carências permanentes de recursos e o não cumprimento das funções atribuídas aos enfermeiros no CODU pelo Despacho nº 13562/2024, de 15 de novembro.


Nesta reunião que seguiu a habitual cooperação interinstitucional com vista a realização de propostas de melhoria estrutural e mitigação das situações identificadas com impacto negativo na eficiência da resposta no pré-hospitalar, o INEM esteve representado para além do Presidente, pelo Enfº Diretor Rui Campos e a jurista Bruna Noga, Coordenadora do Gabinete de Desenvolvimento e Apoio aos Profissionais. A ASPE esteve representada pela Presidente, Lúcia Leite, a Vice-presidente da Direção Álvara Silva, pelos Conselheiros Nacionais Andrea Figueiredo e Filipe Alves e pelo Delegado Sindical Luís Reis (com experiência nos meios de emergência do INEM e no CODU).

Limites de trabalho suplementar



A ASPE foi perentória a afirmar que:


  • O limite legal de horas suplementares dos enfermeiros é de 150 horas anuais, e não 250 horas, como erroneamente foi assumido.
  • O INEM não pode obrigar os Enfermeiros a ultrapassar os limites legais definidos -150 horas anuais, para a realização do trabalho suplementar, tendo sido reforçado por parte do INEM não existir qualquer pressão sobre os profissionais nesse sentido.
  • Os enfermeiros não estando obrigados a ultrapassar esse limite, podem se assim entenderem disponibilizar-se para fazerem mais hora extra.


Quanto ao pagamento das horas já realizadas e a realizar no futuro, foi garantido à ASPE que o pagamento de todo o trabalho suplementar efetivamente prestado já se encontra autorizado.


Considerando que a Direção do INEM assumiu junto do Ministério da Saúde que “Até ao final do ano de 2025 (...) os enfermeiros façam 146 866 horas suplementares (…)” foi sublinhada pela ASPE a necessidade de se melhorar o planeamento e se proceder à contratação imediata dos enfermeiros necessários para assegurar a atividade regular do INEM, de modo a serem evitadas horas extraordinárias ilegais.



Contratação de Enfermeiros


Foi notado por parte do INEM a dificuldade em obter autorização do Governo para contratar enfermeiros de modo a poder avançar e consolidar as suas áreas de atuação no pré-hospitalar, que envolve, entre outros o alargamento da rede SIV prevista até ao final do ano e a consolidação da posição dos Enfermeiros nos CODU.


A carência permanente de enfermeiros nos CODU, demonstrada pelo facto de ainda se verificarem cerca de 30% de pedidos de passagens de dados não acompanhados por enfermeiro, não tem permitidos atribuir aos enfermeiros a totalidade das funções previstas no Despacho nº 13562/2024, de 15 de novembro, designadamente o acompanhamento das vias verdes e outras funções de acompanhamento e apoio na gestão. 

Face ao panorama acima descrito, confirma-se terem sido apenas contratados 18 enfermeiros em 2025, havendo previsão de contratação de até mais 52 enfermeiros. Contudo, apesar de uma bolsa de recrutamento ainda ativa, o INEM aguarda há meses por autorização governamental para proceder à notificação dos candidatos e realização de contratos. Aguarda também autorização para a abertura de outros procedimentos concursais designadamente para Enfermeiros Especialista e Gestores.


Fomos informados que o Mapa de Pessoal tem lugar em 2025 para mais 37 Enfermeiros, 35 Enfermeiros Especialistas e 4 Enfermeiros Gestores, num total de mais 75 profissionais. 


A proposta de Mapa de pessoal para 2026, que aguarda aprovação pela tutela, já prevê a contratação de 36 Enfermeiros Especialistas e mais 17 Enfermeiros, tendo uma previsão do total de 227 Enfermeiros, 106 Especialistas e 15 Gestores.


Em virtude da demora das autorizações por parte do Governo, a ASPE sugeriu abertura de concurso para Bolsa de Recrutamento para as várias especialidades de modo a permitir antecipar o processo e agilizar a contratação quando receberem as devidas autorizações. 


Foi ainda colocado a consideração do INEM questionar a tutela sobre a possibilidade de ser autorizado a realizar contratos CIT.


As sugestões foram bem aceites pelo Presidente do INEM que ficou de ponderar esses assuntos em Direção.


Organização do Trabalho e Funções dos Enfermeiros



Face às recentes notícias veiculadas nas últimas semanas, foi debatido o Despacho n.º 13562/2024, de 15 de novembro e consecutivamente a subutilização dos enfermeiros nos CODU.


Foi referido pelo INEM que a operacionalização da reentrada dos Enfermeiros nos CODU acabou por ser precipitado pela greve dos TEPH, inviabilizando a inclusão destes profissionais de forma estruturada, dado a necessidade premente profissionais.


A ASPE reafirmou a urgente e plena implementação do Despacho n.º 13562/2024, de 15 de novembro, uma vez que os Enfermeiros não estão a desempenhar todas as funções previstas, estando a ser subaproveitadas as suas competências. Foi ainda reforçada a necessidade de revisão e simplificação de procedimentos com vista a otimizar o trabalho dos Enfermeiros no CODU.


A ASPE propôs que, neste âmbito, a análise e o procedimento das recusas de transporte pelos Enfermeiros e Médicos Reguladores seja simplificada, colocando um comando telefónico próprio para o efeito, à semelhança do que existe para a Passagem de Dados e para os Pedidos de Ajuda Diferenciada.



A ASPE solicitou ainda ao INEM que assumisse uma posição oficial, de forma a clarificar as informações divulgadas nas redes sociais e na comunicação social, com o objetivo de mitigar a circulação de conteúdos que possam prejudicar a imagem e credibilidade da atividade dos enfermeiros perante a opinião pública, prevenindo igualmente eventuais impactos na sua permanência nos CODU. 


Modelo de Emergência e Articulação com o SNS


Foram abordados diferentes modelos internacionais (francês, holandês, sueco, anglo-saxónico) e a sua adaptação ao contexto português. A ASPE esclareceu que em breve irá apresentar a sua proposta de modelo integrado de emergência pré-hospitalar tendo por foco a melhor eficiência dos serviços, onde haja maior integração com as Unidades Locais de Saúde e SNS24, evitando-se transportes desnecessários e otimizando recursos.



Foi com agrado que recebemos a informação que a proposta de revisão do Regulamento de Transporte de Doentes já prevê a existência de Enfermeiros nas Ambulâncias dos Bombeiros. Para a ASPE esse será um grande desafio de operacionalização e monitorização para se garantir a qualidade dos cuidados e a segurança do doente.


Outras Propostas Sindicais


Abordamos a possibilidade de ser negociado um ACT específico com o INEM ou mais abrangente do SNS, desde que seja inequívoco que se aplica aos Enfermeiros do INEM e em que moldes. A ASPE comprometeu-se a sugerir ao Governo um ACT específico para o INEM, dada a sua natureza, especificidade e horários diferenciados.



A ASPE defendeu ainda o recurso ao Regime de Horário Acrescido ainda em vigor, para se mitigarem rapidamente e parcialmente o défice de enfermeiros, diminuindo assim o recurso a trabalho suplementar. Foi ainda esclarecido que o Regime de Prevenção não está legalmente previsto para os enfermeiros até que seja incluído num ACT, mas poderá ser negociado individualmente com os enfermeiros para situações muito especificas como por exemplo o apoio ao Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR). 


Desafios e Preocupações


Foram identificadas dificuldades decorrentes da falta de clareza legal e da excessiva burocracia, fatores que comprometem a eficiência da gestão. 

Salientou-se ainda o risco de sobrecarga dos profissionais, com potencial impacto negativo na qualidade e segurança dos cuidados prestados. 


Foi destacada a necessidade de implementar mecanismos de monitorização, auditoria e formação contínua, de forma a garantir a segurança e a eficácia dos serviços prestados. 



Juntos Construímos o Futuro!