Os enfermeiros começaram a concentrar-se pouco depois das 19:30 e reuniram pouco mais de 100 pessoas, que colocaram velas pelo chão e cartazes com dizeres como "a justiça inflexível é frequentemente a maior das injustiças", "a justiça é um direito dos enfermeiros. Basta de governos indignos" e "não sou lixo".
No primeiro de dois dias de greve dos enfermeiros, com uma adesão entre 75% e 80%, a vigília organizada pelo Movimento Nacional dos Enfermeiros (MNE) produziu um manifesto que foi entregue em mãos na secretaria do gabinete do primeiro-ministro, António Costa.
No manifesto, os enfermeiros dizem que "está bem patente na classe de enfermagem a revolta, a desmotivação, o sentimento de injustiça e falta de esperança num futuro melhor".
"No entanto, acreditamos que este sentimento é transversal a todos os profissionais de saúde", expressam, palavras corroboradas à Lusa no local por Susana Viegas, do MNE, e por Lúcia Leite, da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE).
Como no manifesto, Susana Viegas disse à Lusa que "os enfermeiros sentem-se injustiçados perante uma carreira que se encontra desadequada à realidade do país".
"Há na nossa carreira uma categoria (enfermeiro principal) perante a qual nunca abriram concursos de acesso, existem colegas que trabalham há mais de 15 anos e que nunca progrediram na carreira e que aparentemente vão ficar sem progredir porque houve uma atualização salarial obrigatória que está erradamente a ser interpretada como progressão", afirmam os enfermeiros no manifesto enviado a António Costa.
O documento refere que "há enfermeiros que dão o seu melhor em conhecimento ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) há mais de 15 anos e que, ainda assim, o seu vencimento é o mesmo como se tivessem sido formados ontem. Estas injustiças desmotivam qualquer profissional por melhor que seja e duram há anos com os enfermeiros".
Lúcia Leite, presidente da ASPE, vincou também à Lusa estas preocupações e as reivindicações do setor, que levaram a estes dois dias de greve, garantindo que se o Governo não apresentar "em tempo útil" medidas que vão ao encontro das reivindicações da classe, os enfermeiros vão endurecer as formas de luta, com eventuais novas greves.
Os sindicatos dos enfermeiros deram início, às 08:00 de hoje, a dois dias de greve nacional para pressionar o Governo a apresentar uma contraproposta ao diploma da carreira de enfermagem.
Convocada por todos os sindicatos de enfermeiros (SEP, Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem, Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros e o SERAM), a greve visa ainda exigir a "justa e correta" contagem dos pontos para efeito do descongelamento das progressões na carreira, a todos os enfermeiros, independentemente do vínculo.
Reivindica também o pagamento do suplemento remuneratório aos enfermeiros especialistas, a admissão de mais profissionais de saúde, um salário mínimo de 1600 euros mensais, a possibilidade de chegar ao topo da carreira técnica superior, suplementos para funções de especialista, a criação de categoria na área da gestão e a aposentação antes dos 66 anos.
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